Aventura para contar aos outros
Uma das melhores experiências profissionais que tive na vida foi uma expedição que a Gazeta Mercantil promoveu durante mais de 50 dias por todos os estados do Centro-Oeste. Cinco duplas de repórteres se revezaram ao volante de um Troller em busca de pautas que mostrassem um pouco da economia das cidades mais importantes da região. Minha parceira foi a Jaqueline Dias, hoje dona de uma empresa de comunicação. Em 10 dias, visitamos duas cidades do Mato Grosso (Cuiabá e Rondonópolis) e sete do Mato Grosso do Sul (Coxim, Aquidauana, Miranda, Corumbá, Bonito, Dourados e Campo Grande).
A história mais interessante da viagem aconteceu já no final, quando estávamos indo de Corumbá a Bonito. Tínhamos passado há cerca de uma hora por Bodoquena e estávamos a mais ou menos 50 quilômetros de Bonito. Como as condições da estrada, que era de terra, eram péssimas, levaríamos pelo menos mais uma hora para chegar. O negócio era viajar com calma, admirando a paisagem e o horizonte a perder de vista.
Do nada começamos a ouvir um barulho esquisito:
TSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
Pensei na hora: será que furou o pneu? Desci do carro e fui checar. Tudo ok. Voltei para o Troller, sentei no banco e girei a chave. Nada. Girei de novo. Nada. Outra vez. Nada. Nem sinal. Nem barulho. O carro não funcionava de jeito nenhum.
E agora, o que fazer? Estávamos no meio do nada, não tinha uma alma viva perto, só fazenda para todos os lados. O carro estava cheio de coisas, toda nossa bagagem, dois notebooks, dinheiro etc. E como a parte elétrica não estava funcionando, era impossível fechar o vidro. Ou seja, não dava para largar o carro e procurar ajuda. Celular, evidentemente, nem pensar: zero de sinal.
“E então Jaqueline, você fica aqui e eu vou procurar ajuda em alguma fazenda”, sugeri.
“De jeito nenhum que eu fico aqui sozinha”.
Bom, tínhamos um impasse. Mas durou pouco. Por sorte, passou um ônibus indo para Bonito. Jaqueline pegou uma carona até a porteira da fazenda mais próxima. Enquanto ela ia procurar ajuda, resolvi mexer no motor do Troller. Não entendo nada de mecânica, mas sei lá, poderia ter algum cabo solto ou poderia dar sorte e mexer no lugar certo... Uns 30 minutos depois escuto o barulho do motor:
VRUMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Fecho o capô, entro no carro e vou em direção à fazenda mais próxima. No caminho, vejo a Jaqueline voltando, de carona em um trator que vinha nos rebocar. Paro ao lado, sem desligar o motor. O trator estaciona no canto. Conversamos uns cinco minutos com o funcionário da fazenda. Ele sobe no trator. Liga a chave. Nada. Liga de novo. Nada. Outra vez. Nada. Nem sinal. Nem barulho. Já vi essa história.
Bom, parece piada né? Coloco o cara no Troller e vamos até a fazenda. Desligo o carro para ver se liga de novo. Não liga. Telefonamos para o mecânico, que vem de Bodoquena e demora quase duas horas para chegar. Prega durex em um fio e cobra R$ 50. Uma fortuna, mas monopólio é isso mesmo. Pagamos e seguimos viagem. O carro vai bem até Bonito. Ficamos dois dias na cidade, que realmente faz jus ao nome.
Após Bonito, o destino era Dourados. Com pouco mais de meia hora na estrada, paramos para abastecer. Tanque cheio, ligo o carro. Nada. De novo. Nada. Outra vez. Nada. É inacreditável, pensei. Conseguimos ajuda e o carro pega no tranco. Dirigimos mais uma hora e o paramos para almoçar. O carro, obviamente, morre quando desligo. Após o almoço, nova ajuda e novo tranco. Dourados está perto, penso. Lá poderemos levar o carro ao mecânico.
Quando chegamos em Dourados, por volta das 13h30, a cidade parece deserta, todas as lojas estão fechadas. Perguntei à Jaqueline se ela achava possível a cidade parar durante o almoço. Ela respondeu: “com a sorte que temos, com certeza hoje é feriado por aqui”. E não é que ela estava certa? Era o dia da padroeira da cidade. Não funcionava nada. Muito menos oficina mecânica. Agora ferrou, pensei.
Liguei para a redação da Gazeta Mercantil em Brasília e expliquei a situação. Como tínhamos feito muitas matérias, poderíamos tirar Dourados do roteiro e ir direto a Campo Grande, onde passaríamos o carro para a próxima dupla de repórteres. Fomos direto, sem parar nenhuma vez. Ao chegar em Campo Grande, pegamos uma rua movimentada. A Jaqueline, que dirigia, deixou o carro morrer no sinal. Desci do carro e tento, a muito custo, empurrar o troller, que pesa bilhões de toneladas, rua acima. Sozinho, não consegui andar nem 50 metros. Parou um carro. Desceram dois homens que me ajudam a empurrar. Paramos no estacionamento de um supermercado. Dali direto para a oficina. Último tranco, últimos quilômetros no Troller. Dali para o hotel e para Brasília. E com uma bela história para contar aos outros.
Bons tempos aqueles!
Caramba, eu lembro direitinho de quando vocês fizeram essa viagem. O André também teve boas histórias pra contar. Aquela história do Zico jacaré foi nessa época, né?
Abração
Não, a história do Zico foi um ano antes, na Transpantaneira. Cara, essa é só uma história de milhões que essa viagem rendeu.
Abs
Belíssimas lembranças. Para cada um de nós foram grandes experiências. Ainda me lembro exatamente de cada lugar. Sinop-Sorriso-Nova Mutum-Cáceres-Tangará da Serra-Santo Antônio do Levergére-Poconé-Chapada dos Guimarães e finalmente Cuiabá e dos seus personagens. Gelo do ar-condicionado no quarto caindo sobre a cabeça durante a madrugada, o motor do troller fundindo na principal rua de Sorriso, índinhos loiros e doentes na Chapada dos Parecis, ponte queimada e travessia perigosa no caminho da transpantaneira. Lembro também que se não fosse a ajuda da Karina Arruda, você teria viajado sem os documentos daquele jipinho mixuruca... No último dia do meu trecho ainda tivemos de ir até vocês na saída para Rondonópolis porque esqueci de lhe entregar os documentos...
Realmente foi um tempo muito legal.
Que saudade daqueles tempos!
Lembro que a menina que foi com o André tinha acabado de tirar carteira e mal sabia dirigir e que a Iara ficou com ciúmes de você ir com uma mulher.
Foi com você que o carro desconfigurou porque usaram a chave reserva?
Acho que foi o Vavá que levou uma multa...
Enfim, muita falta faz trabalhar com tanta gente legal.
O problema da chave reserva não foi comigo. E quem tomou a multa fomos nós. Estávamos em Bonito e a Jaqueline resolveu parar o carro ao lado de uma placa de proibido estacionar. Falei para ela que iríamos tomar uma multa, mas ela duvidou: "até parece que vamos ser multados em uma cidade deste tamanho". Pois fomos, um mês depois chegou lá na Gazeta.
Ahh, lembrei ainda que a tela de um dos laptops trincou c/vcs, não foi.
Hane, o André se deu mal, porque a companheira de viagem dele dirigia. Eu é que me dei bem, porque a minha companheira de viagem inadvertidamente se inscreveu na expedição sem saber dirigir coisa alguma.
Aliás, não sei se vcs souberam, mas uma de nossas colegas daquele período faleceu. A Joanice Pierini, que fez dupla de viagem com o Vavá, adoeceu e morreu há cerca de dois anos. Ela estava residindo aqui em Brasília e assessorava o deputado Carlos Abicalil, do PT de Mato Grosso. A família criou um website para homenagear a memória dela. Vou tentar encontrar o link e passar para vcs.
Abração
Ooops, foi mal pela pontuação errada. Pressa...
Mas afinal qual era o problema do carro?
Queria ter entrado na GZM uns aninhos antes. Acho que queria ter saído anos antes também. HEHEHHEHEHE
Pô, agora fiquei curiosa: que diacho de defeito tinha o jipe?
O caso era perguntar que defeito o jipe não tinha...