11 junho 2009

Eu e minhas bengalas Emengarda, Smurfete e House 1

Sempre ando na companhia de uma bengala, porque aos 20 anos de idade fraturei o quadril em um acidente de carro. Tenho um desgaste avançado na articulação graças a muitas andanças e à benção de três filhos. Para aliviar a carga da perna machucada, uso a bengala.

Mas este post não é para falar de como rolou a luxação traumática do fêmur com fratura de acetábulo (o osso da coxa penetrou a minha bacia). Esse é um capítulo que merece um relato decente. Por isso, não perca a incrível série No Sarah com Iara.

Ao longo desse tempão de ponto e vírgula venho colecionando bengalas e dando nome a essas simpáticas companheiras. A primeira delas foi a Emengarda. Feita em madeira escura, ponta de guarda-chuva e medianamente leve. Antes dela, tive ainda a companhia de dois pares de muletas. A Janis e a Joplin e a Penélope e a Charmosa.

Quando abandonei a Emen (para os íntimos), conseguia ainda caprichar no rebolado para compensar a marcha irregular (eu tentava esconder que era manca). Mas depois da terceira gestação as coisas realmente se complicaram. Não consigo mais andar sem a minha ilustre companhia.

Em abril de 2008, fiz a minha primeira viagem internacional. Foi quando deixei, oficialmente, de ser uma OS (Orêia Seca, no dicionário do meu amado irmão, Paulo Vidal, gente sem oportunidade de usufruir facilidades do conforto financeiro). Na confusão do grande dia, acabei embarcando com uma bengala da qual não gostava, era azul-escura e, para piorar, pesada pra caramba. O nome dela era Smurfete.

Para burlar a aporrinhação de aeroportos, usufruo da minha condição de DF (deficiente física). Pedi atendimento com cadeira de rodas e fui bajulada durante todo o traslado. Chegamos por Paris e, no tempo que levou a nossa conexão para a Holanda, havia um funcionário da cia aérea conduzindo a chaise volonte. Em Amsterdam, fui recebida por um carrinho motorizado, que nos levou até a porta de saída e pertinho da estação de trem. Em Madri, tive atenção para descapacitado (palavra horrorosa para designar DF). O mesmo no aeroporto de Casa Blanca, no Marrocos. Pelo menos nos aeroportos, a minha bengala me proporciona certos privilégios.

Em Amsterdam, andar de bicicleta estava fora de cogitação. Gastamos, eu e Alê, muita sola de sapato e, quando eu chegava ao meu limite, subíamos em um tram. Andamos muito e contei bastante com Smurfete. Ganhei uma inflamação no ombro (esquerdo, porque o apoio deve ser no lado oposto ao da perna machucada). Tive que mudar a bengala de lado, e passei a andar como o Dr. House, da série de TV.

Em Paris, andamos mais ainda do que em Amsterdam. Circulamos de metrô para todos os lados. Nossa hospedagem ficava em Montmartre, cheio de ladeiras.

Durante os passeios na minha primeira visita à capital francesa não abri mão de
percorrer muitas distâncias com minha fiel e pesada Smurfete.


Meu braço pediu arrego e o Titi (Tylex, remédio para dor) deu sua honrosa contribuição. Precisei arrumar outra bengala, mais leve. Foi então que comprei a House 1, em uma farmácia no Quartier Latin. Era muito mais leve do que a Smurfete, e muito, mas muito mais charmosa. Pretinha e básica.


Smurfete foi depositada em uma poubelle, no Quartier Latin.
Não pode reclamar de não ter tido um momento de glamour em sua jornada.


A leveza de minha nova companheira era sua qualidade mais marcante. Com ela, bati perna na Grand Via e fiz tantos outros passeios, em Madri. Foi na Espanha, aliás, que ela foi de fato batizada.

A madrinha da bengala, Dani Nahass, foi nossa anfitriã - junto com o marido,
André Garcia - na capital espanhola. Numa de nossas andanças, demos o nome de House em homenagem ao personagem rabugento e que usa uma bengala.


A House 1 foi uma companheira incrível. Em Rabat, no Marrocos, percorri as ruelas da Medina Azul, contemplei o outro lado do Atlântico e avistei a república dos piratas, Salé.

Em Marrakesh, a cidade cor de terra-cota, desviei das mobiletes assassinas e conheci um jardim todo azul com a Nane. Ela nos guiou em uma viagem inesquecível com o marido, Gael, o filho Leo, e com o caçula, Millo, ainda na barriga.


O apoio de House 1 me permitiu subir as ruínas de Aït Ben Haddou...

...e beliscar um pedacinho do deserto do Saara, em Merzouga.

Já em casa, minha nobre bengala House 1 ainda durou alguns meses. Certo dia eu a esqueci sobre o sofá da sala e ela acabou sendo partida ao meio. Quebrou com uma sentada. Ainda preservo a versão reduzida da minha corajosa amiga de viagem.

Entre a House 1 e a 2, tem a bengala prateada. Ela não tem nome, pois não tem charme. Não gosto dela. Parece que veio de um hospital. Ela me serve para emergências.

A House 2 veio junto com a House 3 (ainda fora de combate, novinha em folha e sem uso), de Lyon. Não é frescura, mas aqui não se encontram bengalas leves como na França. Então fiz uma encomenda para a Biza (Wal Vidal), que me trouxe as duas. O must é que elas são dobráveis! Pretinhas e básicas.


2 Comments:

At 11:12 AM, Blogger Unknown said...

Bom dia e não boa manha, bom dia o dia inteiro, manha tarde noite, boa vida, boas conquistas, bons relacionamentos, boas idéias, bons sentimentos, boa história, bom cristão, muito amor. Deus te abençoe proteja e guarde em nome de Jesus.
Muito me diverti com sua história achei bastante interessante, minha história é parecida, bati meu carro em um coqueiro serial killer que nada sofreu, mas o carro não sobrou muita coisa, e eu fraturei a bacia acetábulo e cabeça do fêmur, agora quase oito meses depois do acidente descobri que estou com os ligamentos do joelho rompido, muito me interesse pelo Dr. House e quero comprar uma bengala igual à dele, pena que não encontro uma pronta acho que terei que construir uma já comecei a minha coleção, tenho uma que carinhosamente chamo de experiência, pois comprei uma bastante simples e frágil para experimentar, mas já deu pra notar como e bom poder abandonar o bone e claid, que é como acho que deve ser o nome de minhas muletas, ainda tomo muitos remédios, mas logo pretendo estar de volta ao trabalho com a minha Dr. House one, como irei batizala em sua homenagem, pois vc me estimulou e eu agradeço por sua história de vida que prova que quem tem certas necessidades não é incapaz, pois vc andou muito até mesmo em um deserto. Abraço...

 
At 3:58 PM, Blogger Giovanegbenedet said...

Olá!
Que interessante sua história!
Sofri as mesmas fraturas que você!
Tenho um blog tratando da minha recuperação!
www.euvoumerecuperar.com
Abraço e parabéns!

 

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