Minha família e o futebol
Aqui em casa todo mundo nasce flamenguista, embora não seja uma condição imutável. Prova disso é que meu filho mais velho, de 11 anos, virou tricolor paulista. Tenho minhas teorias para explicar essa transformação.
A primeira delas é o motivo que nos leva a torcer para esse ou aquele time. Como somos brasileiros, nascidos no país do futebol, sentimos a pressão de torcer por algum time. No meu caso, passei a ser flamenguista por pura birra com o Vasco.
Meu pai e um tio, na década de 80, eram torcedores fanáticos do time do Roberto Dinamite. Eles eram tão chatos, que prestei atenção para o time que eles mais detestavam. Era o Flamengo. Aprendi rapidinho a gostar do Zico (o que não foi nenhuma dificuldade). Logo, logo, senti a emoção de ser campeã do mundo. Confesso que hoje em dia não dou a menor bola para futebol. Só em Copa do Mundo, final, contra o Vasco, essas ocasiões especiais. E também não sei qual a regra do impedimento de cor.
Já o meu marido virou flamenguista por puro acaso. Meu sogro, botafoguense (de meia tigela, pois nem assiste jogo) comprou uma camisa de time de futebol para cada um dos três filhos. O Alê ganhou uma do Flamengo; o Leonardo, do Cruzeiro; e o Marcelo, do Palmeiras. Só o Léo mudou de time e hoje é Fluminense. Os outros dois continuam fiéis ao primeiro uniforme.
No caso dos meus filhos, nasceram em uma casa rubra negra – com direito a quadro brega que vende no boteco na parede da sala de televisão – e ponto final.
Depois do motivo da escolha do time, conta também a forma de torcer. A expectativa é que todo torcedor seja apaixonado. Esse é o segundo furo no meu esquema familiar futebolístico. Aqui em casa não rola essa paixão.
Estou com o meu marido há 10 anos e nesse tempo ele foi jogar futebol com os amigos ou primos em duas ocasiões. Nas duas foi parar no pronto-socorro. Nunca presenciei meu companheiro deixar de fazer o que quer que seja para assistir futebol. Ele até assiste, mas não é nenhuma sangria desatada. Tudo bem que em jogos decisivos, rola a expectativa. Mas a comoção é muito maior quando é para torcer contra o Vasco do que em favor do Mengão.
Acredito que a transformação do Iuri tenha a ver com a ‘frouxidão’ dos valores futebolísticos que impera nesse clube dos loucos. Embora liberais nesse assunto, uma regra é muito clara: nada de torcer para o Vasco. Meu pai até tentou influenciar o neto a torcer para os cruzmaltinos.
– Que camisa é essa Iuri? – perguntou o Alê. No meu carro você não vai entrar. Só entra para colocar no tapete, para pisar em cima.
Impressionado, Iurix entendeu bem o recado e virou tricolor paulista. Pedro ainda é uma incógnita, embora já tenha dito que não gosta do Flamengo. Pode ser verdade ou para implicar com o irmão do meio, o Arthur. Esse sim, rubro-negro. Fora o detalhe dele não curtir muito futebol e soltar umas tiradas como esta:
– Mãe, me chama se o Flamengo fizer gol para eu encher o saco do William (primo adulto e botafoguense e antiflamenguista ortodoxo) – e some para brincar de luta com a turma de monstros e guerreiros imaginários.
Ou na ocasião em que ele participava do campeonato de futebol de salão do colégio. Ele estava muito mais interessado em um homem cabeludo que estava na beira da quadra.
– Quem é você? É pai de quem? O que está fazendo aqui?
Eu e o pai dele acenávamos para ele prestar atenção na bola e parar de conversa. Ele desistiu de interrogar o homem misterioso e foi ter com os ninjas dele. E o jogo passou sem que ele tomasse conhecimento. Só ficou interessado na hora de correr e pular.
Meu sobrinho, filho do cunhado que renegou o Cruzeiro e virou Fluminense, é um caso típico de torcedor fanático desde a infância. Fanático tanto pelo Fluminense quanto por futebol, diga-se. Com apenas 7 anos ele conhece a escalação dos times, comenta resultados e deixa o que estiver fazendo para assistir futebol. E foi de uma hora para outra que ele deixou de ser menininho e virou um moleque que saca de futebol.
Esse é mais um mistério dos meninos que me cercam. Onde fica o ajuste para o tanto que vai gostar de futebol?
A primeira delas é o motivo que nos leva a torcer para esse ou aquele time. Como somos brasileiros, nascidos no país do futebol, sentimos a pressão de torcer por algum time. No meu caso, passei a ser flamenguista por pura birra com o Vasco.
Meu pai e um tio, na década de 80, eram torcedores fanáticos do time do Roberto Dinamite. Eles eram tão chatos, que prestei atenção para o time que eles mais detestavam. Era o Flamengo. Aprendi rapidinho a gostar do Zico (o que não foi nenhuma dificuldade). Logo, logo, senti a emoção de ser campeã do mundo. Confesso que hoje em dia não dou a menor bola para futebol. Só em Copa do Mundo, final, contra o Vasco, essas ocasiões especiais. E também não sei qual a regra do impedimento de cor.
Já o meu marido virou flamenguista por puro acaso. Meu sogro, botafoguense (de meia tigela, pois nem assiste jogo) comprou uma camisa de time de futebol para cada um dos três filhos. O Alê ganhou uma do Flamengo; o Leonardo, do Cruzeiro; e o Marcelo, do Palmeiras. Só o Léo mudou de time e hoje é Fluminense. Os outros dois continuam fiéis ao primeiro uniforme.
No caso dos meus filhos, nasceram em uma casa rubra negra – com direito a quadro brega que vende no boteco na parede da sala de televisão – e ponto final.
Depois do motivo da escolha do time, conta também a forma de torcer. A expectativa é que todo torcedor seja apaixonado. Esse é o segundo furo no meu esquema familiar futebolístico. Aqui em casa não rola essa paixão.
Estou com o meu marido há 10 anos e nesse tempo ele foi jogar futebol com os amigos ou primos em duas ocasiões. Nas duas foi parar no pronto-socorro. Nunca presenciei meu companheiro deixar de fazer o que quer que seja para assistir futebol. Ele até assiste, mas não é nenhuma sangria desatada. Tudo bem que em jogos decisivos, rola a expectativa. Mas a comoção é muito maior quando é para torcer contra o Vasco do que em favor do Mengão.
Acredito que a transformação do Iuri tenha a ver com a ‘frouxidão’ dos valores futebolísticos que impera nesse clube dos loucos. Embora liberais nesse assunto, uma regra é muito clara: nada de torcer para o Vasco. Meu pai até tentou influenciar o neto a torcer para os cruzmaltinos.
– Que camisa é essa Iuri? – perguntou o Alê. No meu carro você não vai entrar. Só entra para colocar no tapete, para pisar em cima.
Impressionado, Iurix entendeu bem o recado e virou tricolor paulista. Pedro ainda é uma incógnita, embora já tenha dito que não gosta do Flamengo. Pode ser verdade ou para implicar com o irmão do meio, o Arthur. Esse sim, rubro-negro. Fora o detalhe dele não curtir muito futebol e soltar umas tiradas como esta:
– Mãe, me chama se o Flamengo fizer gol para eu encher o saco do William (primo adulto e botafoguense e antiflamenguista ortodoxo) – e some para brincar de luta com a turma de monstros e guerreiros imaginários.
Ou na ocasião em que ele participava do campeonato de futebol de salão do colégio. Ele estava muito mais interessado em um homem cabeludo que estava na beira da quadra.
– Quem é você? É pai de quem? O que está fazendo aqui?
Eu e o pai dele acenávamos para ele prestar atenção na bola e parar de conversa. Ele desistiu de interrogar o homem misterioso e foi ter com os ninjas dele. E o jogo passou sem que ele tomasse conhecimento. Só ficou interessado na hora de correr e pular.
Meu sobrinho, filho do cunhado que renegou o Cruzeiro e virou Fluminense, é um caso típico de torcedor fanático desde a infância. Fanático tanto pelo Fluminense quanto por futebol, diga-se. Com apenas 7 anos ele conhece a escalação dos times, comenta resultados e deixa o que estiver fazendo para assistir futebol. E foi de uma hora para outra que ele deixou de ser menininho e virou um moleque que saca de futebol.
Esse é mais um mistério dos meninos que me cercam. Onde fica o ajuste para o tanto que vai gostar de futebol?
Renegado é??? rsrsrs
Adorei o texto.
Beijos