29 julho 2009

Um piti pelo Harry Potter

Sou fã do Harry Potter. Já li e reli muitas e inconfessáveis vezes cada um dos sete volumes da série. Se você me avistar em uma roda de pré-adolescentes, pode apostar que estou me exibindo com os meus conhecimentos potterianos. Consigo até filosofar sobre o uso da penseira, a capacidade de aparatar e ter que possuir as relíquias da morte para destruir as horcruxes.

Esse breve prefácio é para vocês compreenderem o motivo de tanto piti que vou narrar a seguir. Não que necessariamente eu precise de um motivo muito forte para dar um piti, mas como esse movimentou até a imprensa, vale o registro.

Domingo, 19 de julho de 2009. Dia escolhido pelo Clube dos Loucos para assistir o tão esperado Harry Potter 6! Só o caçula ficou de fora porque ainda não tem idade. Escolhemos o Cine Academia do Deck Norte, no Lago Norte, sessão dublada das 15h30.

A bilheteria estava aberta, mas não havia viv´alma no guichê. Esperamos. Esperamos. Meu filho mais velho, de 11 anos, ficou impaciente e foi dar uma olhada no corredor que leva às salas de cinema. Descobriu o rapaz da bilheteria degustando uma pipoquinha. Hora mais apropriada, né?

OK. Quatro meias entradas (eu e Alê somos estudantes de línguas) e vambora. Paradinha básica para a pipoca. Ops! O rapaz da bilheteria está puxando papo com o rapaz da pipoca. Faço cara feia. O rapaz da pipoca se toca e me atende. Avisa que conversam depois.

Começa a sessão. Já no trailler, algo anunciava que o que deveria ser diversão vai dar é aborrecimento. A projeção está fora de foco, as bordas da tela tinham uma moldura escura e o áudio estava ruim. “Devem estar fazendo os ajustes”, pensei.

– Mãe, que imagem é essa? O que está acontecendo? Não vai me dizer que o filme também vai estar assim – resmungou Iuri, sentado à minha direita na sala do cinema.

– Calma filho, eles vão arrumar – ponderei.

O filme começa e nada da imagem melhorar.

Meu marido fez há algumas semanas a cirurgia para correção de astigmatismo e ficou desconfiado das próprias vistas.

– É o meu olho ou tem alguma coisa errada com esse filme?

– Seu olho está ótimo. Ao contrário do filme.

Deixo a sala de cinema na hora em que a Professora MacGonnalg comenta sobre o colar enfeitiçado que quase matou a artilheira da Grifinória.

– Por favor, quem é o responsável pela projeção? - pergunto no corredor.

Silêncio.

– Por favor, estou perdendo o filme. Está uma porcaria a imagem. Será que dá para alguém arrumar?

Avisto no final do corredor um rapaz de costas. Pelo visto está fazendo uma boquinha. Passa um tempo – pareceu uma eternidade, afinal estava perdendo a sessão – e alguma das moças do cinema que ouviu meus protestos me assegura que vão ver o que está ocorrendo.

Volto para a sala de cinema. Daqui uns cinco minutos a imagem melhora parcialmente, pelo menos passou a ter foco. Eu que ficasse satisfeita, era o máximo de qualidade que eu teria até o final da sessão. Passei o filme inteiro ouvindo os resmungos do meu marido e do meu filho mais velho. Fora os meus.

Saí da sessão tiririca. Imediatamente procurei pelo gerente.

– Senhor, qual o seu nome? Eu quero fazer uma reclamação e receber o meu dinheiro de volta. A imagem estava uma porcaria. Quero assistir de novo com uma imagem decente.

– Não tenho nome. E não posso devolver o seu dinheiro porque você assistiu o filme até o final.

– Como é que é? Mas eu reclamei que a imagem estava ruim. Vocês ajustaram o foco, mas os outros defeitos continuaram – argumentei.

Silêncio e um risinho de desdém. Nem olhou para a minha cara.

– Moço, não faz isso. Resolve o meu problema. Vou te dar dor de cabeça. Sou jornalista e conheço os meus direitos.

Silêncio.

Beleza. Vamos embora. No carro, liguei para o Cine Academia da Academia de Tênis na tentativa de falar com alguém com um mínimo de sensatez. No telefone, me avisaram que o responsável estaria apenas na segunda-feira. Eu voltaria a ligar.

Cheguei em casa e despejei toda a minha frustração e raiva com o tremendo desrespeito que eu e minha família acabávamos de sofrer no meu único recurso disponível: a palavra. Organizei a relação de jornalistas que cobrem cultura e os que acompanham direitos do consumidor. Contei a minha história e disparei o email. Pesquisei, entrei e postei comentários em todos os blogs e sites de cultura que achei no Google. Atualizei a minha página no Twitter. Mandei mensagem para a minha rede do Orkut. Fucei até achar a assessoria de imprensa da Warner no Brasil e também contei o fato.

Bola pra frente. Fiz o que dava para fazer. Voltei a ligar para o Cine Academia no dia seguinte e consegui falar com o responsável. Educado e coisa e tal, colocou panos quentes e ficou de checar. Aproveitei o embalo e acionei a administração do shopping também. Barba, cabelo e bigode.

Uma repórter da BandNews quis gravar uma sonora comigo. Acabou rendendo matéria, com direito a efeito sonoro e tudo mais. A matéria passou ao longo de todo a terça-feira no bloco local. Eu mesma só ouvi de noite. E para passar raiva.

Ouçam a matéria

O senhor educado que ficou de me dar um retorno do Cine Academia era só vitrine. A partir da declaração dele para a rádio, ficou parecendo que era uma aproveitadora que estava agindo de má fé em busca da devolução do dinheiro. Vale o registro: R$ 36 (trinta e seis reais). Teve ainda a desfaçatez de dizer que eu fui a única em uma sala com 250 pessoas que havia reclamado. Concordo que fui a única, mas entre, no máximo, 50 pessoas.

Depois da BandNews, fui entrevistada pelo Caderno Brasília, do Hoje em Dia; e pela Grita Geral, do Correio Braziliense. Assim que der vou fazer o clipping e postar aqui para vocês constatarem o volume do barulho.

Persiste uma dúvida. Por que será que fui a única pessoa a reclamar?

Arrisco uma resposta baseada na minha experiência com cobertura sobre direitos do consumidor. Comecei a minha carreira de jornalista na coluna Grita Geral, do Correio Braziliense. Passei cinco anos da minha vida ouvindo e apurando queixas de leitores. E uma das inúmeras lições que aprendi, foi que as pessoas são acomodadas e têm preguiça de reclamar. Esperam que alguém faça por elas. Que outro reclame e ela usufrua dos benefícios.

Outra coisa que aprendi é que reclamar vale a pena. Só assim que nos tornaremos maduros como cidadãos. Temos que exercitar o hábito de lutar pela aplicação das leis que nos protegem. Como fez uma velhinha em Rio Verde.