01 dezembro 2009

DNA vilão?







Nasci numa família com sete mulheres: eu, minha irmã, minha mãe, duas tias e duas primas. Hoje, sou a única mulher num lar com mais quatro homens: meu marido e três filhos.

Para contrabalançar, temos uma pessoa para nos ajudar nos serviços domésticos do sexo feminino. Nossos pets também são meninas: uma sharpei e uma golden.

Embora tenha crescido na casa das sete mulheres, nunca fui mulherzinha. Minha primeira bicicleta era uma Monark Supercross e nunca fui afeita a bonecas. Lembro que certa vez ganhar uma Bate-coração, da Estrela. Ela vinha com um estetoscópio a pilhas e fazia o som dos batimentos cardíacos.

Meu irmão era uma peste e eu era pior do que ele. Eu deveria ter uns 5 anos e ele uns 12 quando me fez uma proposta engenhosa. Escondeu as pilhas do estetoscópio da boneca e me chamou, fazendo ares de aflito:

- Nega veia, olha só. Sua boneca morreu. Parou de bater o coração. Temos que fazer uma cirurgia urgente.

Aceitei na hora. Já devia estar de saco cheio daquela boneca sem-graça. Fizemos tudo como mandava o figurino: uma incisão no centro do peito da boneca, usando máscaras e com pinta de adultos.

A pobrezinha da boneca infelizmente não resistiu à cirurgia e foi viver uma vida de monstra nos calabouços do nosso JK: cabelos cortados, marcas de canetinha na cara, cada unha pintada de uma cor, sem roupa e com o tronco todo cheio de cicatrizes que nunca mais se curariam.

Tenho visto que os meus filhos puxaram um pouquinho isso de mim, certa vilania inocente e fora do óbvio ululante. Todos os três adoram animais desde muito novos e, pelo menos aqui em casa, tiveram fases interessantes: dinossauros, tubarões, felinos, abissais, exóticos etc.

O caçula acaba de sair da fase dos dinossauros – deve ter assistido a trilogia do Jurassic Park umas 579 vezes este ano – e entrar (pelo menos esta semana) na fase dos tubarões.

Dia desses ele me saiu com esta:

- ...estavam navegando pelo rio abaixo, quando o tubarão se aproximou. Quando o indiozinho olhou para baixo, o bote quase virou. E virou. O tubarão foi e comeu todos os indiozinhos...

Será que é genético?

30 novembro 2009

Novas companheiras: Quebec e Toronto

Toronto

Quebec

De volta ao Clube dos Loucos. Depois de uma breve ausência por uma boa causa. Estou me recuperando da cirurgia de prótese no meu quadril, realizada no dia 10 de novembro, no hospital Sarah de Brasília. O meu objetivo é estar, em algumas semanas, livre das dores diárias.

A cada dia estou melhor, mais confiante e certa de que fiz a
opção correta. A dor agora é de outro tipo: passa com dipirona e tem prazo para acabar. Minha meta agora é me restabelecer o melhor possível da operação. Para isso tem muita fisioterapia e paciência pela frente.

Nesse período, House, minha fiel companheira, está de férias. Tenho agora a companhia de
Quebec e Toronto, meu par de bengalas canadenses. Elas são barulhentas e feias. Se bem que seria injusta em compará-las ao andador azul calcinha que me arrumaram nos primeiros dias de recuperação.

Mas vida de
convalescente é como de alcoólatra: um dia de cada vez. Um dia a menos de dor e um dia mais perto da recuperação completa.

Enquanto isso, 2 + 1 + 1 – Quebec+Toronto, perna boa e a blindada.

29 julho 2009

Minha família e o futebol


Aqui em casa todo mundo nasce flamenguista, embora não seja uma condição imutável. Prova disso é que meu filho mais velho, de 11 anos, virou tricolor paulista. Tenho minhas teorias para explicar essa transformação.

A primeira delas é o motivo que nos leva a torcer para esse ou aquele time. Como somos brasileiros, nascidos no país do futebol, sentimos a pressão de torcer por algum time. No meu caso, passei a ser flamenguista por pura birra com o Vasco.

Meu pai e um tio, na década de 80, eram torcedores fanáticos do time do Roberto Dinamite. Eles eram tão chatos, que prestei atenção para o time que eles mais detestavam. Era o Flamengo. Aprendi rapidinho a gostar do Zico (o que não foi nenhuma dificuldade). Logo, logo, senti a emoção de ser campeã do mundo. Confesso que hoje em dia não dou a menor bola para futebol. Só em Copa do Mundo, final, contra o Vasco, essas ocasiões especiais. E também não sei qual a regra do impedimento de cor.

Já o meu marido virou flamenguista por puro acaso. Meu sogro, botafoguense (de meia tigela, pois nem assiste jogo) comprou uma camisa de time de futebol para cada um dos três filhos. O Alê ganhou uma do Flamengo; o Leonardo, do Cruzeiro; e o Marcelo, do Palmeiras. Só o Léo mudou de time e hoje é Fluminense. Os outros dois continuam fiéis ao primeiro uniforme.

No caso dos meus filhos, nasceram em uma casa rubra negra – com direito a quadro brega que vende no boteco na parede da sala de televisão – e ponto final.

Depois do motivo da escolha do time, conta também a forma de torcer. A expectativa é que todo torcedor seja apaixonado. Esse é o segundo furo no meu esquema familiar futebolístico. Aqui em casa não rola essa paixão.

Estou com o meu marido há 10 anos e nesse tempo ele foi jogar futebol com os amigos ou primos em duas ocasiões. Nas duas foi parar no pronto-socorro. Nunca presenciei meu companheiro deixar de fazer o que quer que seja para assistir futebol. Ele até assiste, mas não é nenhuma sangria desatada. Tudo bem que em jogos decisivos, rola a expectativa. Mas a comoção é muito maior quando é para torcer contra o Vasco do que em favor do Mengão.

Acredito que a transformação do Iuri tenha a ver com a ‘frouxidão’ dos valores futebolísticos que impera nesse clube dos loucos. Embora liberais nesse assunto, uma regra é muito clara: nada de torcer para o Vasco. Meu pai até tentou influenciar o neto a torcer para os cruzmaltinos.

– Que camisa é essa Iuri? – perguntou o Alê. No meu carro você não vai entrar. Só entra para colocar no tapete, para pisar em cima.

Impressionado, Iurix entendeu bem o recado e virou tricolor paulista. Pedro ainda é uma incógnita, embora já tenha dito que não gosta do Flamengo. Pode ser verdade ou para implicar com o irmão do meio, o Arthur. Esse sim, rubro-negro. Fora o detalhe dele não curtir muito futebol e soltar umas tiradas como esta:

– Mãe, me chama se o Flamengo fizer gol para eu encher o saco do William (primo adulto e botafoguense e antiflamenguista ortodoxo) – e some para brincar de luta com a turma de monstros e guerreiros imaginários.

Ou na ocasião em que ele participava do campeonato de futebol de salão do colégio. Ele estava muito mais interessado em um homem cabeludo que estava na beira da quadra.

– Quem é você? É pai de quem? O que está fazendo aqui?

Eu e o pai dele acenávamos para ele prestar atenção na bola e parar de conversa. Ele desistiu de interrogar o homem misterioso e foi ter com os ninjas dele. E o jogo passou sem que ele tomasse conhecimento. Só ficou interessado na hora de correr e pular.

Meu sobrinho, filho do cunhado que renegou o Cruzeiro e virou Fluminense, é um caso típico de torcedor fanático desde a infância. Fanático tanto pelo Fluminense quanto por futebol, diga-se. Com apenas 7 anos ele conhece a escalação dos times, comenta resultados e deixa o que estiver fazendo para assistir futebol. E foi de uma hora para outra que ele deixou de ser menininho e virou um moleque que saca de futebol.

Esse é mais um mistério dos meninos que me cercam. Onde fica o ajuste para o tanto que vai gostar de futebol?

Um piti pelo Harry Potter

Sou fã do Harry Potter. Já li e reli muitas e inconfessáveis vezes cada um dos sete volumes da série. Se você me avistar em uma roda de pré-adolescentes, pode apostar que estou me exibindo com os meus conhecimentos potterianos. Consigo até filosofar sobre o uso da penseira, a capacidade de aparatar e ter que possuir as relíquias da morte para destruir as horcruxes.

Esse breve prefácio é para vocês compreenderem o motivo de tanto piti que vou narrar a seguir. Não que necessariamente eu precise de um motivo muito forte para dar um piti, mas como esse movimentou até a imprensa, vale o registro.

Domingo, 19 de julho de 2009. Dia escolhido pelo Clube dos Loucos para assistir o tão esperado Harry Potter 6! Só o caçula ficou de fora porque ainda não tem idade. Escolhemos o Cine Academia do Deck Norte, no Lago Norte, sessão dublada das 15h30.

A bilheteria estava aberta, mas não havia viv´alma no guichê. Esperamos. Esperamos. Meu filho mais velho, de 11 anos, ficou impaciente e foi dar uma olhada no corredor que leva às salas de cinema. Descobriu o rapaz da bilheteria degustando uma pipoquinha. Hora mais apropriada, né?

OK. Quatro meias entradas (eu e Alê somos estudantes de línguas) e vambora. Paradinha básica para a pipoca. Ops! O rapaz da bilheteria está puxando papo com o rapaz da pipoca. Faço cara feia. O rapaz da pipoca se toca e me atende. Avisa que conversam depois.

Começa a sessão. Já no trailler, algo anunciava que o que deveria ser diversão vai dar é aborrecimento. A projeção está fora de foco, as bordas da tela tinham uma moldura escura e o áudio estava ruim. “Devem estar fazendo os ajustes”, pensei.

– Mãe, que imagem é essa? O que está acontecendo? Não vai me dizer que o filme também vai estar assim – resmungou Iuri, sentado à minha direita na sala do cinema.

– Calma filho, eles vão arrumar – ponderei.

O filme começa e nada da imagem melhorar.

Meu marido fez há algumas semanas a cirurgia para correção de astigmatismo e ficou desconfiado das próprias vistas.

– É o meu olho ou tem alguma coisa errada com esse filme?

– Seu olho está ótimo. Ao contrário do filme.

Deixo a sala de cinema na hora em que a Professora MacGonnalg comenta sobre o colar enfeitiçado que quase matou a artilheira da Grifinória.

– Por favor, quem é o responsável pela projeção? - pergunto no corredor.

Silêncio.

– Por favor, estou perdendo o filme. Está uma porcaria a imagem. Será que dá para alguém arrumar?

Avisto no final do corredor um rapaz de costas. Pelo visto está fazendo uma boquinha. Passa um tempo – pareceu uma eternidade, afinal estava perdendo a sessão – e alguma das moças do cinema que ouviu meus protestos me assegura que vão ver o que está ocorrendo.

Volto para a sala de cinema. Daqui uns cinco minutos a imagem melhora parcialmente, pelo menos passou a ter foco. Eu que ficasse satisfeita, era o máximo de qualidade que eu teria até o final da sessão. Passei o filme inteiro ouvindo os resmungos do meu marido e do meu filho mais velho. Fora os meus.

Saí da sessão tiririca. Imediatamente procurei pelo gerente.

– Senhor, qual o seu nome? Eu quero fazer uma reclamação e receber o meu dinheiro de volta. A imagem estava uma porcaria. Quero assistir de novo com uma imagem decente.

– Não tenho nome. E não posso devolver o seu dinheiro porque você assistiu o filme até o final.

– Como é que é? Mas eu reclamei que a imagem estava ruim. Vocês ajustaram o foco, mas os outros defeitos continuaram – argumentei.

Silêncio e um risinho de desdém. Nem olhou para a minha cara.

– Moço, não faz isso. Resolve o meu problema. Vou te dar dor de cabeça. Sou jornalista e conheço os meus direitos.

Silêncio.

Beleza. Vamos embora. No carro, liguei para o Cine Academia da Academia de Tênis na tentativa de falar com alguém com um mínimo de sensatez. No telefone, me avisaram que o responsável estaria apenas na segunda-feira. Eu voltaria a ligar.

Cheguei em casa e despejei toda a minha frustração e raiva com o tremendo desrespeito que eu e minha família acabávamos de sofrer no meu único recurso disponível: a palavra. Organizei a relação de jornalistas que cobrem cultura e os que acompanham direitos do consumidor. Contei a minha história e disparei o email. Pesquisei, entrei e postei comentários em todos os blogs e sites de cultura que achei no Google. Atualizei a minha página no Twitter. Mandei mensagem para a minha rede do Orkut. Fucei até achar a assessoria de imprensa da Warner no Brasil e também contei o fato.

Bola pra frente. Fiz o que dava para fazer. Voltei a ligar para o Cine Academia no dia seguinte e consegui falar com o responsável. Educado e coisa e tal, colocou panos quentes e ficou de checar. Aproveitei o embalo e acionei a administração do shopping também. Barba, cabelo e bigode.

Uma repórter da BandNews quis gravar uma sonora comigo. Acabou rendendo matéria, com direito a efeito sonoro e tudo mais. A matéria passou ao longo de todo a terça-feira no bloco local. Eu mesma só ouvi de noite. E para passar raiva.

Ouçam a matéria

O senhor educado que ficou de me dar um retorno do Cine Academia era só vitrine. A partir da declaração dele para a rádio, ficou parecendo que era uma aproveitadora que estava agindo de má fé em busca da devolução do dinheiro. Vale o registro: R$ 36 (trinta e seis reais). Teve ainda a desfaçatez de dizer que eu fui a única em uma sala com 250 pessoas que havia reclamado. Concordo que fui a única, mas entre, no máximo, 50 pessoas.

Depois da BandNews, fui entrevistada pelo Caderno Brasília, do Hoje em Dia; e pela Grita Geral, do Correio Braziliense. Assim que der vou fazer o clipping e postar aqui para vocês constatarem o volume do barulho.

Persiste uma dúvida. Por que será que fui a única pessoa a reclamar?

Arrisco uma resposta baseada na minha experiência com cobertura sobre direitos do consumidor. Comecei a minha carreira de jornalista na coluna Grita Geral, do Correio Braziliense. Passei cinco anos da minha vida ouvindo e apurando queixas de leitores. E uma das inúmeras lições que aprendi, foi que as pessoas são acomodadas e têm preguiça de reclamar. Esperam que alguém faça por elas. Que outro reclame e ela usufrua dos benefícios.

Outra coisa que aprendi é que reclamar vale a pena. Só assim que nos tornaremos maduros como cidadãos. Temos que exercitar o hábito de lutar pela aplicação das leis que nos protegem. Como fez uma velhinha em Rio Verde.

11 junho 2009

Abaporu e a bengala


Fiquei devendo o relato de alguma aventura da House 2, que ficou mordida de ciúmes por ter sido apenas citada no post anterior. House 2 e 3 cruzaram o Atlântico na bagagem de Wal Vidal, querida irmã da minha mãe e chamada de “Bisa Wal” pelos meus filhos. Ela trouxe a contragosto a encomenda, mas acabou encontrando um modelo muito prático, além de leve, dobrável. Perfeito para guardar na bolsa.

Desta vez, o trio parada dura – Iuri, Arhur e Pedro – apadrinhou a bengala. Fizeram questão de batizá-la de House 2 e já avisaram que a ainda zero quilômetro vai ser a House 3. A tal da bengala prateada, qualquer dia ganha um nome. Mas ainda tenho birra com ela.

House 2 me acompanhou na minha primeira viagem a Buenos Aires, no final de maio de 2009. Como de costume, a bengala me abriu portas para alguns privilégios nos aeroportos. Viajamos em dois casais: eu e Alê – com o castelhano na ponta de língua; e meu irmão, Paulo, e a mulher, Márcia, na sexta visita deles à capital argentina.

Ficamos hospedados na Ricoleta e andamos muito de táxi, que por lá é bem barato em relação a Brasília. Mas fizemos caminhadas bem gostosas, quando a House 2 deu realmente imensa contribuição.


Visitamos dois museus, o Museu Nacional de Belas Artes - e o Malba, o Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires. Não fazia ideia de que a tela brasileira mais valorizada no mundo – o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, foi comprada pelo argentino Eduardo Constantini, em 1995, e agora está exposto no Malba. Tive que visitar outro país para contemplar esse marco das nossas artes plásticas. Apesar da indignação patriótica, valeu e pena.

A House 2 está escondidinha no lado esquerdo da fotografia.

Também visitamos o Parque El Rosedal e fomos ao zoológico . Quero esclarecer que não gosto de ir ao zoológico. Acho deprimente a condição daqueles animais. Mas meus filhos gostam muito de bichos e lá tem um tigre de bengala albino e um urso polar. Tive que me render , na companhia de House 2, e bancar uma volta pelo zoológico.
Este é o pobre urso polar deprimido do Zôo portenho.

O triste tigre de bengala albino.

House 2 mostrou realmente o seu valor em Palermo Soho, na Plaza Serrano, onde rola uma feira de jovens estilistas portenho nos finais de semana. As roupas, os acessórios e os objetos estão expostos em cafés, em restaurantes e pelas calçadas. Tem muita peça bacana com preço camarada. Eu e House 2 desbravamos muitas bancas.

Eu e minhas bengalas Emengarda, Smurfete e House 1

Sempre ando na companhia de uma bengala, porque aos 20 anos de idade fraturei o quadril em um acidente de carro. Tenho um desgaste avançado na articulação graças a muitas andanças e à benção de três filhos. Para aliviar a carga da perna machucada, uso a bengala.

Mas este post não é para falar de como rolou a luxação traumática do fêmur com fratura de acetábulo (o osso da coxa penetrou a minha bacia). Esse é um capítulo que merece um relato decente. Por isso, não perca a incrível série No Sarah com Iara.

Ao longo desse tempão de ponto e vírgula venho colecionando bengalas e dando nome a essas simpáticas companheiras. A primeira delas foi a Emengarda. Feita em madeira escura, ponta de guarda-chuva e medianamente leve. Antes dela, tive ainda a companhia de dois pares de muletas. A Janis e a Joplin e a Penélope e a Charmosa.

Quando abandonei a Emen (para os íntimos), conseguia ainda caprichar no rebolado para compensar a marcha irregular (eu tentava esconder que era manca). Mas depois da terceira gestação as coisas realmente se complicaram. Não consigo mais andar sem a minha ilustre companhia.

Em abril de 2008, fiz a minha primeira viagem internacional. Foi quando deixei, oficialmente, de ser uma OS (Orêia Seca, no dicionário do meu amado irmão, Paulo Vidal, gente sem oportunidade de usufruir facilidades do conforto financeiro). Na confusão do grande dia, acabei embarcando com uma bengala da qual não gostava, era azul-escura e, para piorar, pesada pra caramba. O nome dela era Smurfete.

Para burlar a aporrinhação de aeroportos, usufruo da minha condição de DF (deficiente física). Pedi atendimento com cadeira de rodas e fui bajulada durante todo o traslado. Chegamos por Paris e, no tempo que levou a nossa conexão para a Holanda, havia um funcionário da cia aérea conduzindo a chaise volonte. Em Amsterdam, fui recebida por um carrinho motorizado, que nos levou até a porta de saída e pertinho da estação de trem. Em Madri, tive atenção para descapacitado (palavra horrorosa para designar DF). O mesmo no aeroporto de Casa Blanca, no Marrocos. Pelo menos nos aeroportos, a minha bengala me proporciona certos privilégios.

Em Amsterdam, andar de bicicleta estava fora de cogitação. Gastamos, eu e Alê, muita sola de sapato e, quando eu chegava ao meu limite, subíamos em um tram. Andamos muito e contei bastante com Smurfete. Ganhei uma inflamação no ombro (esquerdo, porque o apoio deve ser no lado oposto ao da perna machucada). Tive que mudar a bengala de lado, e passei a andar como o Dr. House, da série de TV.

Em Paris, andamos mais ainda do que em Amsterdam. Circulamos de metrô para todos os lados. Nossa hospedagem ficava em Montmartre, cheio de ladeiras.

Durante os passeios na minha primeira visita à capital francesa não abri mão de
percorrer muitas distâncias com minha fiel e pesada Smurfete.


Meu braço pediu arrego e o Titi (Tylex, remédio para dor) deu sua honrosa contribuição. Precisei arrumar outra bengala, mais leve. Foi então que comprei a House 1, em uma farmácia no Quartier Latin. Era muito mais leve do que a Smurfete, e muito, mas muito mais charmosa. Pretinha e básica.


Smurfete foi depositada em uma poubelle, no Quartier Latin.
Não pode reclamar de não ter tido um momento de glamour em sua jornada.


A leveza de minha nova companheira era sua qualidade mais marcante. Com ela, bati perna na Grand Via e fiz tantos outros passeios, em Madri. Foi na Espanha, aliás, que ela foi de fato batizada.

A madrinha da bengala, Dani Nahass, foi nossa anfitriã - junto com o marido,
André Garcia - na capital espanhola. Numa de nossas andanças, demos o nome de House em homenagem ao personagem rabugento e que usa uma bengala.


A House 1 foi uma companheira incrível. Em Rabat, no Marrocos, percorri as ruelas da Medina Azul, contemplei o outro lado do Atlântico e avistei a república dos piratas, Salé.

Em Marrakesh, a cidade cor de terra-cota, desviei das mobiletes assassinas e conheci um jardim todo azul com a Nane. Ela nos guiou em uma viagem inesquecível com o marido, Gael, o filho Leo, e com o caçula, Millo, ainda na barriga.


O apoio de House 1 me permitiu subir as ruínas de Aït Ben Haddou...

...e beliscar um pedacinho do deserto do Saara, em Merzouga.

Já em casa, minha nobre bengala House 1 ainda durou alguns meses. Certo dia eu a esqueci sobre o sofá da sala e ela acabou sendo partida ao meio. Quebrou com uma sentada. Ainda preservo a versão reduzida da minha corajosa amiga de viagem.

Entre a House 1 e a 2, tem a bengala prateada. Ela não tem nome, pois não tem charme. Não gosto dela. Parece que veio de um hospital. Ela me serve para emergências.

A House 2 veio junto com a House 3 (ainda fora de combate, novinha em folha e sem uso), de Lyon. Não é frescura, mas aqui não se encontram bengalas leves como na França. Então fiz uma encomenda para a Biza (Wal Vidal), que me trouxe as duas. O must é que elas são dobráveis! Pretinhas e básicas.


10 junho 2009

O blog da Petrobras

Acredito que em alguns anos a polêmica sobre o blog da Petrobras terá o status de divisora de águas no jeito de se fazer jornalismo impresso. Quando cair a ficha, teremos que encarar que realmente o mundo não é mais o mesmo.

Ninguém mais precisa dos veículos de comunicação
tradicionais para ter acesso à informação. E muito menos para divulgá-la. Estão aí o YouTube, o Twitter e esse bando de redes sociais online. Ou seja, a internet dispensa os veículos tradicionais de comunicação para distribuir a informação. Então não precisamos de jornalistas. Certo? Errado.

A profissão nunca foi tão necessária quanto hoje. Afinal, precisamos que nos revelem os caminhos desse mar de
informação, função para a qual os jornalistas deveriam estar preparados. A internet deixa claro que esses profissionais de comunicação são indispensáveis para sinalizar, entre o que está pipocando na rede, o que tem qualidade e é confiável.

Como a Lúcia Hippolito, por exemplo, que sobre a decisão da OEA de abrir caminho para readmissão de Cuba, foi além da notícia.
Resgatou fatos históricos e estabeleceu uma conexão com o presente. (Ouça o comentário)

Outro ponto positivo desse episódio é revelar a necessidade de avaliar a prática do jornalismo
declaratório. A tecnologia permite que os donos da informação não precisem mais dos veículos de imprensa para torná-la pública. Mas a opinião pública continua precisando dos jornalistas para avaliar o cenário de um jeito mais amplo, que considere o contraditório e o interesse público das questões.

Espernear contra esse blog é nadar contra a corrente. Sejamos
realistas, é um caminho sem volta que, convenhamos, não pegou ninguém desavisado. Tem é tempo que a internet está bombando e mudando o jeito das pessoas se comunicarem.

O lado bom é que as crises permitem as grandes
reviravoltas. É uma chance de ouro para a imprensa, especialmente a escrita, tomar lugar nessa revolução cibernética. Torço para que a leitura diária do jornal impresso ganhe mais cor. É frustrante acessar os portais de notícia meia noite e, no dia seguinte, pela manhã, abrir o jornal e não ver nenhuma novidade. Com raras e honrosas exceções, nossos impressos reproduzem o que já está na internet.

27 junho 2008

Um nome para o bebê

Escolher nome de filho, pelo menos no meu caso, sempre foi tarefa difícil. Afinal, é preciso pensar bem antes de definir como eles serão conhecidos pelos outros, pelo menos enquanto não são rebatizados (ou se rebatizam), para terror e desgosto dos pais, com algum codinome charmoso como Macaco, Almôndega, Rabicó, Boi, Cagão, Broquinha, Macaúba ou Xexelento. Em casa, sempre quebramos cabeça, principalmente para chegar a um acordo. Quando um gostava de um nome, o outro odiava. Perdi a conta de quantas vezes lemos aqueles livros com sugestões, muitas tão esdrúxulas que, em minha opinião, não dão pra batizar nem as pulgas das cadelas lá de casa.

Meu filho caçula, por exemplo, nasceu sem nome. Inicialmente seria Tomás, mas um amigo, com toda delicadeza, disse que iria virar Tomás no cu na escola e, compreensivelmente, minha esposa embirrou com o nome. Se fosse mulher, uma das opções seria Sofia. Que, segundo este mesmo amigo, iria virar Sofia da puta. Difícil. O fato é que o menino nasceu sem nome. E acabou virando Pedro no segundo dia de vida. Apenas Pedro, já que minha mulher, Iara Cristina, detesta nomes duplos. Mas é verdade, tem uns que são normais, mas há cada nome duplo que vou te contar: Kátia Rogéria, Catarina Lucrécia, Rafaela Rejane, Haroldo Alexandre e outras coisas mais. O brasileiro é mesmo um povo muito criativo.

Muito mais fácil seria se adotássemos a velha técnica brasileira de nomenclatura. Metade do nome é do pai, a outra metade da mãe e seja o que Deus quiser. Meus filhos, por exemplo, poderiam ter se chamado Iarandro ou Alessara. Não é lindo? Podia ter pensado nisso antes. Só não é tão legal como Surinalva, Lucicleidson, Binoniel, Rildenir, Paulismara, Uelinelson e Floriacy, que estão entre os mais incríveis que eu já vi. O segredo é que o nome pareça onomatopéia e que depois de cinco minutos você já não se lembre dele de jeito nenhum.

Inclusive, existem uns nomes que nem mesmo os donos conseguem pronunciar. Um amigo me contou que conheceu um camarada que jurava se chamar Cróvis:

“Como assim? Seu nome é Clóvis, e não Cróvis”.
“Que é isso, quer saber mais que eu? É Cróvis”.
“Deixa eu ver sua identidade. Olha aqui criatura, olha o que está escrito. Teu nome é Clóvis, com L. Cló-vis”.
“Sério? Mais como eu ia saber. Minha mãe sempre me chamou assim e eu não sei ler o que está no documento... Mas agora deixa Cróvis mesmo, todo mundo me conhece assim”.


Se um nome fácil como esse já dá confusão, imagine essas monstruosidades que têm por aí.

Alguns nomes, inclusive, deviam dar cadeia aos pais, sem direito a fiança. Imagine só se chamar Ronaldo Romário Rivaldo da Silva? Ou Jefferson Washington Truman de Oliveira? Pasmem, essas duas criaturas existem! Pior que isso, só as obras de arte que existiam antes de 1973, quando a lei Federal de Registros Públicos proibiu os oficiais de cartório de registrarem crianças com nomes que as exponham ao ridículo ou a situações humilhantes. Esses são apenas alguns exemplos da criatividade alheia: Himalaia Virgulino Janeiro Fevereiro de Março Abril, Japodeis da Pátria Torres, Lança Perfume de Andrade, Naida Navinda Navolta Pereira, Nascente Nascido Puro, Nunes Restos Mortais de Catarina e Oceano Atlântico Linhares

Moral da história: Se você se chama João, Paulo, Maria, Fernando, Leonardo, Cláudia, Simone ou qualquer nome normal, levante as mãos para os céus.