19 março 2007

Renato "Camões" Russo


Decidi fazer o concurso para jornalista da Câmara dos Deputados. Tudo bem, reconheço que a vida inteira eu disse que dessa água não beberia, mas R$ 9 mil de salário por mês, fora os extras, é bastante tentador. Como estou há muito tempo sem estudar e mal me lembro das teorias da comunicação, legislações e agregados, resolvi fazer um cursinho. De oito a meio-dia, de segunda a sexta, e de manhã e de tarde nos fins de semana.

Nos primeiros dias, fiquei até assustado. É tanta gente matriculada para o tal do concurso, estudando “há mais de um ano”, que deu vontade de desistir. Mas esses dias me animei de novo. Vi que tenho uns concorrentes de dar dó.

Estava na aula de interpretação de texto e o professor começou a ensinar figuras de linguagem. Para explicar o que é paradoxo, pôs no quadro como exemplo o poema abaixo:

O amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.
(Camões)

Um segundo após o professor escrever o nome do autor, uma das minhas concorrentes à vaga de jornalista da Câmara levantou a mão e perguntou:

“Professor, Camões é algum pseudônimo do Renato Russo?”

E a guria perguntou numa boa, crente que estava arrasando, acho que demorou a entender por que, de uma hora pra outra, havia tantas pessoas olhando pra ela, incrédulas. Cá entre nós, como pode uma jornalista formada não saber quem foi Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa?

Moral da história: tenho um concorrente a menos.