28 junho 2007

Almoço de domingo

Quem já viu criança com fome? É de deixar qualquer um doido. É grito, é choro, reclamação pra cá, reclamação pra lá. Já vi a cena milhões de vezes, afinal tenho três anjinhos em casa: Arthur (terror), Iuri (pânico) e Pedro (tsunami). Mas confesso que nunca tinha vivenciado a situação com tanta intensidade como há umas duas semanas.

Minha mulher está temporariamente em São Paulo, então saí sozinho com o trio parada dura para almoçar no Careca, um restaurante chinês que tem perto de casa. Pedimos quatro rolinhos-primavera (um para cada), macarrão frito e os refrigerantes. Nada muito complicado, convenhamos.

Quando chegaram os rolinhos, uns quinze minutos depois, a molecada já estava insana. Eu estava até com dor de cabeça de tanto ouvir “tô com fome” e “a comida não chega não, hein?”. Os meninos devoraram os rolinhos de um jeito que me deu até vergonha, pareciam aqueles meninos africanos quer mal têm o que comer. Não preciso nem dizer que continuaram todos com fome, ansiosos pelo resto da comida.

Nessa altura, o restaurante estava com todas as mesas lotadas e uma fila de pessoas esperando do lado de fora. E a nossa comida, nada. A molecada estava novamente em fase pré-surto. Iuri batendo os talheres na mesa, Arthur repetindo “tô com fome” de cinco em cinco segundos, e Pedro, de apenas um ano e dez meses, gritando sem parar: “rolinhooooooooooo, rolinhooooooooooooooo, rolinhooooooooooooooooo”.

Passou uma hora e nada da nossa comida. Perdi a conta de quantas vezes reclamamos com o garçom. Arthur, de seis anos, apelou até para chantagem emocional. Primeiro, de leve: “moço, você não tem vergonha de deixar três crianças morrendo de fome?”. Depois pegou pesado, abrindo o berreiro: “eu vou morrer de fome por causa desse Careca, eu vou morreeeeeeeeeer...”. Foi nessa hora que o garçom ficou com pena e me confessou que só tinha um cozinheiro trabalhando aquele dia. Os demais estavam um de folga e outro doente.

Após mais de uma hora de espera, sem previsão, e com terror, pânico e tsunami a mil, resolvi comer em outro lugar. Pedimos a conta e saímos, com Arthur chamando o garçom de filho daquilo e dizendo que nunca mais poria os pés naquela “bosta de restaurante”. Pedro também aproveitou mais uma vez para gritar “rolinhooooooooooo”, para deleite da audiência. Acabamos comendo uma pizza na quadra ao lado.

Foi um dia e tanto.