11 junho 2009

Abaporu e a bengala


Fiquei devendo o relato de alguma aventura da House 2, que ficou mordida de ciúmes por ter sido apenas citada no post anterior. House 2 e 3 cruzaram o Atlântico na bagagem de Wal Vidal, querida irmã da minha mãe e chamada de “Bisa Wal” pelos meus filhos. Ela trouxe a contragosto a encomenda, mas acabou encontrando um modelo muito prático, além de leve, dobrável. Perfeito para guardar na bolsa.

Desta vez, o trio parada dura – Iuri, Arhur e Pedro – apadrinhou a bengala. Fizeram questão de batizá-la de House 2 e já avisaram que a ainda zero quilômetro vai ser a House 3. A tal da bengala prateada, qualquer dia ganha um nome. Mas ainda tenho birra com ela.

House 2 me acompanhou na minha primeira viagem a Buenos Aires, no final de maio de 2009. Como de costume, a bengala me abriu portas para alguns privilégios nos aeroportos. Viajamos em dois casais: eu e Alê – com o castelhano na ponta de língua; e meu irmão, Paulo, e a mulher, Márcia, na sexta visita deles à capital argentina.

Ficamos hospedados na Ricoleta e andamos muito de táxi, que por lá é bem barato em relação a Brasília. Mas fizemos caminhadas bem gostosas, quando a House 2 deu realmente imensa contribuição.


Visitamos dois museus, o Museu Nacional de Belas Artes - e o Malba, o Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires. Não fazia ideia de que a tela brasileira mais valorizada no mundo – o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, foi comprada pelo argentino Eduardo Constantini, em 1995, e agora está exposto no Malba. Tive que visitar outro país para contemplar esse marco das nossas artes plásticas. Apesar da indignação patriótica, valeu e pena.

A House 2 está escondidinha no lado esquerdo da fotografia.

Também visitamos o Parque El Rosedal e fomos ao zoológico . Quero esclarecer que não gosto de ir ao zoológico. Acho deprimente a condição daqueles animais. Mas meus filhos gostam muito de bichos e lá tem um tigre de bengala albino e um urso polar. Tive que me render , na companhia de House 2, e bancar uma volta pelo zoológico.
Este é o pobre urso polar deprimido do Zôo portenho.

O triste tigre de bengala albino.

House 2 mostrou realmente o seu valor em Palermo Soho, na Plaza Serrano, onde rola uma feira de jovens estilistas portenho nos finais de semana. As roupas, os acessórios e os objetos estão expostos em cafés, em restaurantes e pelas calçadas. Tem muita peça bacana com preço camarada. Eu e House 2 desbravamos muitas bancas.

Eu e minhas bengalas Emengarda, Smurfete e House 1

Sempre ando na companhia de uma bengala, porque aos 20 anos de idade fraturei o quadril em um acidente de carro. Tenho um desgaste avançado na articulação graças a muitas andanças e à benção de três filhos. Para aliviar a carga da perna machucada, uso a bengala.

Mas este post não é para falar de como rolou a luxação traumática do fêmur com fratura de acetábulo (o osso da coxa penetrou a minha bacia). Esse é um capítulo que merece um relato decente. Por isso, não perca a incrível série No Sarah com Iara.

Ao longo desse tempão de ponto e vírgula venho colecionando bengalas e dando nome a essas simpáticas companheiras. A primeira delas foi a Emengarda. Feita em madeira escura, ponta de guarda-chuva e medianamente leve. Antes dela, tive ainda a companhia de dois pares de muletas. A Janis e a Joplin e a Penélope e a Charmosa.

Quando abandonei a Emen (para os íntimos), conseguia ainda caprichar no rebolado para compensar a marcha irregular (eu tentava esconder que era manca). Mas depois da terceira gestação as coisas realmente se complicaram. Não consigo mais andar sem a minha ilustre companhia.

Em abril de 2008, fiz a minha primeira viagem internacional. Foi quando deixei, oficialmente, de ser uma OS (Orêia Seca, no dicionário do meu amado irmão, Paulo Vidal, gente sem oportunidade de usufruir facilidades do conforto financeiro). Na confusão do grande dia, acabei embarcando com uma bengala da qual não gostava, era azul-escura e, para piorar, pesada pra caramba. O nome dela era Smurfete.

Para burlar a aporrinhação de aeroportos, usufruo da minha condição de DF (deficiente física). Pedi atendimento com cadeira de rodas e fui bajulada durante todo o traslado. Chegamos por Paris e, no tempo que levou a nossa conexão para a Holanda, havia um funcionário da cia aérea conduzindo a chaise volonte. Em Amsterdam, fui recebida por um carrinho motorizado, que nos levou até a porta de saída e pertinho da estação de trem. Em Madri, tive atenção para descapacitado (palavra horrorosa para designar DF). O mesmo no aeroporto de Casa Blanca, no Marrocos. Pelo menos nos aeroportos, a minha bengala me proporciona certos privilégios.

Em Amsterdam, andar de bicicleta estava fora de cogitação. Gastamos, eu e Alê, muita sola de sapato e, quando eu chegava ao meu limite, subíamos em um tram. Andamos muito e contei bastante com Smurfete. Ganhei uma inflamação no ombro (esquerdo, porque o apoio deve ser no lado oposto ao da perna machucada). Tive que mudar a bengala de lado, e passei a andar como o Dr. House, da série de TV.

Em Paris, andamos mais ainda do que em Amsterdam. Circulamos de metrô para todos os lados. Nossa hospedagem ficava em Montmartre, cheio de ladeiras.

Durante os passeios na minha primeira visita à capital francesa não abri mão de
percorrer muitas distâncias com minha fiel e pesada Smurfete.


Meu braço pediu arrego e o Titi (Tylex, remédio para dor) deu sua honrosa contribuição. Precisei arrumar outra bengala, mais leve. Foi então que comprei a House 1, em uma farmácia no Quartier Latin. Era muito mais leve do que a Smurfete, e muito, mas muito mais charmosa. Pretinha e básica.


Smurfete foi depositada em uma poubelle, no Quartier Latin.
Não pode reclamar de não ter tido um momento de glamour em sua jornada.


A leveza de minha nova companheira era sua qualidade mais marcante. Com ela, bati perna na Grand Via e fiz tantos outros passeios, em Madri. Foi na Espanha, aliás, que ela foi de fato batizada.

A madrinha da bengala, Dani Nahass, foi nossa anfitriã - junto com o marido,
André Garcia - na capital espanhola. Numa de nossas andanças, demos o nome de House em homenagem ao personagem rabugento e que usa uma bengala.


A House 1 foi uma companheira incrível. Em Rabat, no Marrocos, percorri as ruelas da Medina Azul, contemplei o outro lado do Atlântico e avistei a república dos piratas, Salé.

Em Marrakesh, a cidade cor de terra-cota, desviei das mobiletes assassinas e conheci um jardim todo azul com a Nane. Ela nos guiou em uma viagem inesquecível com o marido, Gael, o filho Leo, e com o caçula, Millo, ainda na barriga.


O apoio de House 1 me permitiu subir as ruínas de Aït Ben Haddou...

...e beliscar um pedacinho do deserto do Saara, em Merzouga.

Já em casa, minha nobre bengala House 1 ainda durou alguns meses. Certo dia eu a esqueci sobre o sofá da sala e ela acabou sendo partida ao meio. Quebrou com uma sentada. Ainda preservo a versão reduzida da minha corajosa amiga de viagem.

Entre a House 1 e a 2, tem a bengala prateada. Ela não tem nome, pois não tem charme. Não gosto dela. Parece que veio de um hospital. Ela me serve para emergências.

A House 2 veio junto com a House 3 (ainda fora de combate, novinha em folha e sem uso), de Lyon. Não é frescura, mas aqui não se encontram bengalas leves como na França. Então fiz uma encomenda para a Biza (Wal Vidal), que me trouxe as duas. O must é que elas são dobráveis! Pretinhas e básicas.


10 junho 2009

O blog da Petrobras

Acredito que em alguns anos a polêmica sobre o blog da Petrobras terá o status de divisora de águas no jeito de se fazer jornalismo impresso. Quando cair a ficha, teremos que encarar que realmente o mundo não é mais o mesmo.

Ninguém mais precisa dos veículos de comunicação
tradicionais para ter acesso à informação. E muito menos para divulgá-la. Estão aí o YouTube, o Twitter e esse bando de redes sociais online. Ou seja, a internet dispensa os veículos tradicionais de comunicação para distribuir a informação. Então não precisamos de jornalistas. Certo? Errado.

A profissão nunca foi tão necessária quanto hoje. Afinal, precisamos que nos revelem os caminhos desse mar de
informação, função para a qual os jornalistas deveriam estar preparados. A internet deixa claro que esses profissionais de comunicação são indispensáveis para sinalizar, entre o que está pipocando na rede, o que tem qualidade e é confiável.

Como a Lúcia Hippolito, por exemplo, que sobre a decisão da OEA de abrir caminho para readmissão de Cuba, foi além da notícia.
Resgatou fatos históricos e estabeleceu uma conexão com o presente. (Ouça o comentário)

Outro ponto positivo desse episódio é revelar a necessidade de avaliar a prática do jornalismo
declaratório. A tecnologia permite que os donos da informação não precisem mais dos veículos de imprensa para torná-la pública. Mas a opinião pública continua precisando dos jornalistas para avaliar o cenário de um jeito mais amplo, que considere o contraditório e o interesse público das questões.

Espernear contra esse blog é nadar contra a corrente. Sejamos
realistas, é um caminho sem volta que, convenhamos, não pegou ninguém desavisado. Tem é tempo que a internet está bombando e mudando o jeito das pessoas se comunicarem.

O lado bom é que as crises permitem as grandes
reviravoltas. É uma chance de ouro para a imprensa, especialmente a escrita, tomar lugar nessa revolução cibernética. Torço para que a leitura diária do jornal impresso ganhe mais cor. É frustrante acessar os portais de notícia meia noite e, no dia seguinte, pela manhã, abrir o jornal e não ver nenhuma novidade. Com raras e honrosas exceções, nossos impressos reproduzem o que já está na internet.